Bruno Bezerra analisa a mudança da feira
Este blog destina-se ao público em geral que busca a informação de forma crítica e objetiva. Ele foi criado pelo jornalista baiano radicado em Pernambuco, Geraldo Moura.
O empreendedor Bruno Bezerra concedeu entrevista exclusiva para este blog. Bruno é autor do livro "Caminhos do Desenvolvimento", onde narra toda história empreendedora da Terra das Confecções. Na entrevista, ele discorre sobre a revolução que o Santa Cruz Moda Center já está realizando na cultura econômica local.
Bruno esse empreendimento revoluciona a economia de SCC?
Esse empreendimento consolida a cultura empreendedora do nosso povo, é mais uma página bem escrita na nossa história, e bem escrita por várias mãos, é preciso salientar. O Moda Center é o cartão de visitas de uma cultura empreendedora que vem sendo conquistada, evoluindo ao logo de décadas na força do trabalho de homens e mulheres de fibra, espalhados por toda Santa Cruz e região. O Moda Center é na verdade a extensão da casa de cada cidadão trabalhador de Santa Cruz, é uma extensão da micro e pequena empresa familiar que funciona nas residências, das empresas de maior porte, é a materialização da alma empreendedora do nosso povo. É a locomotiva de um vistoso trem chamado “pólo de confecções do agreste pernambucano”, uma das atividades econômicas que mais e melhor distribui renda no país. É o fruto mais doce de décadas de trabalho de pelo menos duas gerações de empreendedores da terra das confecções.
Pouco se discute, mas com a transferência da feira, ela acabou por triplicar seu quantitativo de vendedores. Esse aumento da oferta não terá conseqüências negativas para a economia da região?
Acredito que não, o próprio mercado se encarregará de selecionar e harmonizar essa quantidade de vendedores. O que não podemos perder nunca é a nossa capacidade de ofertar oportunidade, e eu explico melhor. Quando a feira funcionava nas ruas, qualquer pessoa poderia começar, ou recomeçar do zero - e muitas vezes até de uma situação deficitária – pois a todo o momento, a feira ofertava oportunidades, bastava que alguém, mesmo sem capital, tivesse o mínimo de conhecimento e crédito para entrar no mercado. O sujeito sem capital algum, poderia pegar produtos de um fabricante e revender nas ruas ganhando comissão ou algum extra, mesmo sem ter um ponto na feira, ele poderia sair vendendo nas representações, na mão, no carro ou carroça pela feira. É fundamental para nossa estrutura econômica o calçadão funcionado decentemente, para permitir que essa oferta de oportunidade não acabe. Claro, tudo dentro de uma nova realidade de organização, planejamento etc. Mas fundamentalmente sem deixar de ofertar oportunidade a todo e qualquer trabalhador, pois nunca sabemos o dia de amanhã, hoje quem está por cima, pode amanhã ficar por baixo, e é preciso que se tenha oportunidade sempre.
Como você analisa toda essa questão relativa ao ‘calçadão’ e agora com o ‘poeirão’. Tudo isso não aconteceu por falta de um planejamento mais aprofundado para a acomodação dos que não puderam comprar boxes?
A falta de planejamento atrapalhou esse processo. Faltou um recadastramento dos vendedores ativos da feira na rua, inclusive com verificação do local onde essas pessoas estavam vendendo na feira de rua. Ao final desse recadastramento deveria ter sido entregue a senha ou autorização para que o vendedor agilizasse sua transferência para o calçadão. Mas também não adianta falarmos do que deveria ter sido feito, o importante agora é cuidar daquela importante parcela do nosso modelo econômico, criando uma estrutura decente para os compradores e vendedores do calçadão, pois o que o povo quer é trabalhar, esteja ele no calçadão ou nos boxes e lojas do Moda Center, assim sendo, é preciso muito bom senso para sintonizar e equilibrar os muitos interesses ali, onde uns querem algo mais sofisticado e outros mais simples. É preciso focar sempre o comprador, uma estrutura produtiva em primeiro lugar para quem vem comprar, e chegar num ponto de equilíbrio, um meio termo entre o conforto e a comodidade.
Na sua opinião, da inauguração oficial até hoje, o balanço do Moda Center é positivo?
Em primeiro lugar, não podemos ver a mudança da feira nas ruas para o Moda Center como um simples ato de realocar uma feira. Estamos tratando com mudança cultural. Não é uma tarefa das mais fáceis mudar uma feira de rua grandiosa como a nossa. Mais complicado ainda é mudar uma feira que é também uma forte tradição cultural, isso implica mudanças no tocante à forma de comercializar, expor, produzir, pensar e planejar o negócio, seja ele do tamanho que for. Eu sempre disse que a estrutura do Moda Center deveria ser pensada e planejada em primeiro lugar para ofertar uma maior e melhor condição de trabalho para quem vem dos mais variados lugares do Brasil comprar em nossa cidade, pois se é bom para quem vem comprar, será bem melhor para quem vai vender. A estrutura do Moda Center tem agradado e muito nossos compradores, esse a meu ver deve ser o objetivo principal, e tem sido bastante positivo nesse sentido, é preciso dar seqüência a esse trabalho, focando sempre uma melhor qualidade no atendimento, a questão da segurança, organização, limpeza, eficiência estrutural, publicidade etc. Eu acredito, e confio, que nosso condomínio fará isso com a devida competência.
Por Clóvis Andrade Do Jornal do Commercio (Im Blog César Rocha)