Por Geraldo Moura
Para quem acha que hoje vivemos um caos social, onde os direitos mais básicos são desrespeitados, violentados e dilacerados, é bom saber que já houve época tão complexa quanto a dos dias atuais. Claro que na atualidade não convivemos nem próximos a uma sociedade ideal, onde a paz e harmonia social reinam. No entanto, imagine você, na época da “Ditadura Militar” ou “Movimento Militar” -como queiram- um cidadão batalhador, um jornalista responsável, pai de família, acabar morrendo depois de horas ininterruptas de sofrimentos, dores, choques, e tudo o que há de mais irracional, com relação a atitude de um ser humano para com o seu próximo. Tortura. Quem sofreu isso apenas por lutar em busca de uma liberdade de imprensa foi Vladimir Herzog. Que acabou sendo considerado subversivo, apenas por discordar de um período que não deve ser apagado da memória, de quem viveu na pele e até hoje carrega consigo as marcas da luta pela liberdade da expressão, tão maltratada e desvalorizada na atualidade.
Todo esse período foi descrito com segurança e veracidade, por quem esteve muito próximo a “Vlado”, o amigo, vizinho e companheiro profissional, Fernando Jordão.
No livro, Jordão, que foi diretor do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, nos anos de repressão, retrata toda a trajetória da ascensão do militares, e os meios pelos quais eles tentavam impor uma ordem, baseada na opressão e no medo, ceifando muitas vidas para combater os tão temidos "comunistas". Entre os muitos que desapareceram nos porões do DOI-CODI, estava Vlado, como os íntimos carinhosamente o chamavam.
Vladimir Herzog era casado com Clarice, pai de dois filhos. Era o filho único de dona Zora, que refugiada da Iugoslávia para a Itália, conseguiu se livrar da invasão das tropas de Hitler. Ela se salvou incólume com sua família das garras afiadas dos nazistas, mas por ironia macabra do destino, acabou por perder seu filho único nas mãos de militares de um país famoso por seu “pacifismo”.
O sofrimento de Vlado não foi em vão, seguiu como marco para a união de entidades representativas de jornalistas (Associação Brasileira de Imprensa), advogados (Ordem os Advogados do Brasil), religiosas (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), sem ficar de fora influentes e corajosos políticos opositores do regime e também como artistas renomados acolheram a causa. E que mais tarde obrigou as autoridades a se retratarem e reconhecerem que não se tratou de suicídio, como apontavam os relatórios oficiais. Contribuiu para a gradual “distensão” das liberdades políticas no país.
Vladimir Herzog morreu no dia 25 de outubro de 1975, na sede do DOI-CODI, em São Paulo.
Leia: Dossiê Herzog- Prisão, tortura e morte no Brasil. Fernando Jordão. Global Editora.